Um dos principais objetivos do Centro de Inovação Blumenau (CIB) é inovar em todos os fatores possíveis da cidade, preparando a população para recepcionar esses avanços tecnológicos, culturais, econômicos e até com projetos sociais.
Por isso, o CIB apoia ações e projetos que buscam desenvolver a região por outros caminhos: o da oportunidade, equidade e garantia do futuro. Conheça as ações de inclusão de jovens com espectro autista, de profissionalização de jovens de baixa renda e de reaproveitamento de produtos recicláveis.
Projeto ELITI: aprendendo no seu ritmo
A Escola de Líderes e Tecnologias da Informação (ELITI) é um projeto, criado em 2021, que tem como principal objetivo auxiliar jovens de baixa renda que são interessados em Tecnologia da Informação (TI) a entrarem na área.
O empreendedor e fundador do projeto social, Lucas Pacheco, explica que o estopim para o surgimento dessa iniciativa aconteceu quando ele participou de um evento ensinando HTML e códigos. Após isso, “Um dos meninos começou a me enviar os códigos que estava escrevendo à mão no caderno da escola para eu corrigir. Todos estavam incríveis e foi isso que me inspirou, um rapaz de 16/17 anos com potencial querendo aprender, recém começando a vida e que nunca tinha visto nada de TI antes, sem local para usar seus talentos.”
Lucas resolveu então ensinar dois jovens em seu próprio apartamento. Contudo, começaram a surgir reclamações do condomínio. O fundador do ELITI não aceitou que seus dois alunos teriam que parar de participar do projeto por falta de estrutura e em suas tentativas de resolver a questão, foi apresentado ao Centro de Inovação de Blumenau.
No CIB, Lucas conseguiu espaço e ampliou seu projeto. Hoje atende 20 alunos frequentando o curso e tem até um jovem que veio de Goiânia participar da iniciativa.
O projeto ELITI tem grande relevância no contexto do país. Segundo o livro “Atlas-Desigualdade no Brasil”, publicado pelo MEC, em 2014, 68% da exclusão social no Brasil tem como causa a desigualdade e pobreza. É por esse contexto que Lucas além de ensinar programação, remunera em R$ 700 mensais cada aluno. Esse valor é custeado por empresas parceiras do projeto e usado pelos jovens para arcar com os custos de transporte e alimentação.
Outro diferencial do projeto é o ensino aplicado no ELITI, que é diferente do apresentado nas escolas,
“não temos professores de fato, falando que nem papagaios sem entender por que fazem o que fazem e alunos que decoram informações só para as provas e depois deletam da memória, aqui os estudantes mesmo se organizam e se ensinam trocando conhecimentos, cada um no seu tempo. Ensinamos aqui a ter vontade”,
explica Pacheco.
Lucas ainda explica que um dos objetivos atuais é a extensão do ELITI para2022 a ideia é chegar no número de 50 alunos. Além disso, pretendem expandir outros lugares
Nós queremos que no lugar de prédios (do ELITE), nós tenhamos núcleos espalhados pela região, como o que está incluído no CIB”,
comenta o diretor.
O ELITI mudou a vida de Miguel, aluno do projeto que mesmo depois de arrumar emprego na área de TI, fez questão de continuar na iniciativa como diretor do projeto. “Não é só a vida do jovem que muda, mas sim a família dele também”, complementa Miguel.
O projeto de Lucas não só ajuda os jovens, mas sim, o mercado de trabalho de TI, que vem passando por falta de profissionais na área. Segundo a Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, o Brasil forma 46 mil pessoas com perfil tecnológico por ano, porém, estima-se que, de 2019 até 2024, a demanda por profissionais seja de 420 mil. Se não houver mudanças, haverá um déficit de 260 mil profissionais na área.
Gráfico1: Dados da queda de profissionais de TI no mercado de trabalho brasileiro
Para participar do projeto, é preciso entrar em contato com Miguel, diretor da Eliti, que está frequentemente presente no dia a dia dos jovens.
Projeto Ágape: autismo não é um obstáculo
O Projeto Ágape prepara jovens e adultos com Síndrome de Espectro Autista para o mercado de trabalho, tentando oferecer oportunidades para que participem no mundo como os outros. A ideia de Simone Gadotte, fundadora do projeto, surgiu através da própria experiência, por ter filhos autistas e ver a dificuldade que a sociedade tem ao lidar com pessoas no espectro, principalmente quando deixam de ser crianças.
Diferente do convencional, a criadora e diretora do Ágape, Simone Gadotte teve a ideia de criar o projeto social com a proposta de não serem aulas nas quais o adolescente autista fica apensas observando.
“A gente trabalha de uma forma bem simples, fazendo algo que muita gente não faz: escutamos. É o poder da escuta que transforma. A gente ouve os anseios e vai deixando que o jovem vá falando e vá se descobrindo”,
relata.
Simone conta também que o processo é colocar os participantes em um ambiente onde eles se sintam iguais, e com essa ajuda, sem pressão, definem sozinhos com o que querem trabalhar, cada um com seu ritmo e foco.
“Eu vejo que hoje em dia as pessoas estão tentando normalizar o autismo em vez de os dar ferramentas, não existe isso. Não olhamos para um cadeirante e pedimos para ele fingir que anda, então por que temos que forçar um autista a disfarçar sua condição?”,
compartilha Gadotte.
O projeto tem grande importância na melhoria da autoestima dos alunos e no empoeiramento deles: “Os jovens chegam desacreditados depois de passarem a vida toda ouvindo tudo que não poderiam fazer, tudo que não cabem a eles. Nós estamos aqui para falar que eles podem sim, que eles podem chegar aonde querem e que não tem têm nada errado em ter ambição”, completa a diretora.
Gustavo é um autista de grau dois atendido pelo Ágape e, que tem fobia social. Devido à suas características específicas, ele não se encaixaria em uma empresa onde tivesse que trabalhar presencialmente. Mas através do Ágape, conseguiu a contratação em uma empresa, em Campinas, pela qual trabalha remotamente.
“Ele entrou no projeto em maio de 2021, e teve uma evolução muito bonita. Para mim ele foi a maior surpresa do projeto, chegou um menino quieto, com fobia social e na última seção já saiu se despedindo de todo mundo e é nessas horas que vemos que o projeto funciona”,
observa Simone.
O CIB e o Ágape têm uma parceria para a realização do evento que se mostra através do “Atipycal Draft”, que é um processo de alocação de jovens autistas. Os jovens participam do dia com o objetivo de contratados, passando por entrevistas com empresas trazidas pelo Centro.
Atualmente Em maio de 2021, já aconteceu o primeiro e único um Draft para pessoas com espectro um e dois. Simone esclareceu que o objetivo do ano que vem é fazer mais eventos assim durante o ano.
“O CIB nos acolheu muito bem e então estamos planejando fazer os drafts mensalmente em 2022”,
finaliza a coordenadora do projeto Ágape.
Replastique: projeto como inovação social
O reaproveitamento de produtos recicláveis é uma forma de inclusão social. Com anos de estudos, Daniel Rateke criou a Replastique, que utiliza produtos reciclados para fazer luminárias. Segundo o criador do projeto, a ideia veio como uma inspiração de uma empresa internacional, a Precious Plastic, da China, que utiliza produtos recicláveis para a produção de inúmeras peças decorativas.
Segundo Daniel, no início da empresa, a ideia seria que a parte estética fosse mais conceitual. Usa-se matérias não-virgens, retirados de cooperativas, catadores e centros de reciclagem.
“A partir de aí, é feito um trabalho de retirada de material usado para a fabricação, a ideia é explorar o máximo possível do material de pós-uso”,
completa Rateke.
Em 2018, Daniel incubou o projeto no Instituto GENE, que faz a gestão do CIB. Em 2020, o projeto Replastique se instalou no Centro de Inovação, com a intenção de desenvolver a parte mercadológica. Atualmente, a empresa é residente na Green Place, em Blumenau, e está incubada de forma virtual pelo CIB.
No momento, a Replastique conta com uma diversidade de produtos, mas funciona também sob encomenda de empresas e mira em consumidores de áreas especificas. “Nosso público-alvo são designers, arquitetos e essa comunidade, para que eles coloquem nossas peças em seus projetos”, comenta Daniel. Na espera de pedidos das mais diferentes cores ou materiais, a empresa pode fazer qualquer produto e de qualquer cor, afirma.
Daniel também comenta sobre a importância do projeto e relata que a reciclagem do plástico utilizado ajuda na conservação de produtos naturais e reduz a necessidade de extração de matéria prima.
“É extremamente importante, por funcionar como educação ambiental e incentivar a criatividade para o uso desses resíduos, desenvolvendo peças, modelos e estilos de vida criativos”,
pontua Daniel.
A Replastique, nesse curto espaço de tempo, obteve uma conquista internacional, o vice-campeonato do RO Plastic Prize de 2021, que aconteceu na Itália. O evento anual, elaborado pela Guiltlessplastic, como uma forma de desafiar todos da comunidade de design e arquitetura e promover a reciclagem e a reutilização. A competição conta com três categorias: Projetos de Moveis Urbanos e Públicos; Projetos de Inovações Responsáveis; e Emoção na Comunicação.
A empresa de Daniel sagrou-se vice-campeã na categoria de projetos de móveis urbanos e públicos.
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